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África desafiada a substituir algodão convencional pelo orgânico

Texto: Mustafá Leonardo Foto: O País

frica é desafiada a substituir a produção do algodão convencional pelo orgânico, para reduzir o impacto nocivo dos fertilizantes químicos usados nos solos. Especialistas do sector, na zona oriental e austral do continente, iniciaram um debate, ontem, e termina hoje, na Cidade de Maputo, com foco nas perspectivas para uma transição sustentável.

As mudanças climáticas e o desafio da conservação dos solos induzem a uma nova abordagem sobre o uso de fertilizantes químicos na agricultura. O sector do algodão é um deles.

Por isso, Moçambique e outros países da África Austral e Oriental são chamados a substituir a produção do algodão convencional pelo orgânico.

A mudança é um processo irreversível, visto que o mundo está a dar passos para uma agricultura orientada para produção sustentável e voltada à conservação dos recursos naturais.

Rui Mapatse, inspector-geral da agricultura no Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, assegura que Moçambique não está alheio a esta tendência do mercado global, alinhada com compromisso no Programa Quinquenal do Governo.

Mapatse, que falava na abertura do XV Fórum dos Produtores do Algodão, entende que a reflexão conjunta dos actores permite identificar respostas sobre os passos que as regiões da África Austral e Oriental deverão seguir para introduzir e massificar a produção do algodão orgânico e poderem aproveitar as oportunidades que este mercado emergente oferece ao “nosso precioso ouro branco”.

Segundo o inspector, a produção de algodão orgânico pelos produtores do sector familiar constitui uma oportunidade para o aumento da renda das famílias rurais e para a melhoria da qualidade de vida. “É igualmente uma oportunidade para o país, para a diversificação do mercado, maior contribuição na Balança de Pagamentos e atracção de mais investimentos, tendo em conta o potencial de produção de que o país dispõe para responder a este mercado crescente e promissor”, acrescentou.

Entretanto, o responsável reconhece que a transição para o mercado do algodão orgânico tem desafios relativos à tecnologia adequada, pesquisa das melhores práticas, assistência técnica aos produtores, mudanças culturais e acesso ao financiamento, facto que irá requerer empenho e comprometimento individual de cada país.

CULTURA ORGÂNICA SERÁ O CAMINHO PARA MOÇAMBIQUE?

Por seu turno, Yolanda Gonçalves, directora-geral do Instituto Nacional do Algodão e Oleaginosas (IAOM), avançou que Moçambique já começou a dar os primeiros passos rumo à transição para a produção orgânica, o que, a longo prazo, concorre para a conservação dos solos e, consequentemente, aumento da produção.

Gonçalves julga que a transição não depende das instituições reguladas, por isso chama os actores do sector privado a contribuírem para o alcance da linha requerida nos mercados da matéria-prima.

Segundo a responsável, Moçambique está pronto para dar mais um passo na diversificação do mercado orgânico, por forma a responder à dinâmica do mercado actual que, cada vez mais, procura alternativas sustentáveis.

Aliás, no país, já decorrem ensaios desta linha preferida pelas indústrias de tecido com selo verde.

Moçambique tem, actualmente, 150 mil produtores de pequena escala, associados ao Fórum Nacional dos Produtores do Algodão e seis empresas algodoeiras.

No geral, os actores exploram 130 mil hectares de terra, com rendimento médio de 350 quilogramas por hectare.

O chamado “ouro branco” é uma das principais culturas de exportação de Moçambique. Por ano, a média de produção anual de algodão caroço é de 50.000 toneladas, o que permite a contribuição para a balança de pagamentos em 30 milhões de dólares.

Por isso, a directora do IAOM confirma que a fibra produzida em Moçambique tem mercado assegurado. Os dados da última campanha (2020-2021), por exemplo, apontam exportação para Europa 44%, Ásia - 45%, e 11% para África.

O sector do algodão emprega, directa e indirectamente, cerca de 30.000 mil pessoas em todo o país.

É a olhar para este panorama que Moçambique troca experiências para adequar a quantidade e a qualidade requeridas no mercado e no fórum dos países produtores.

O Fórum foi criado em 1998 com objectivo de estabelecer uma rede de discussão de assuntos de interesse comum no algodão que afectam as duas regiões. A XV sessão contou com a participação de empresas algodoeiras, produtores e especialistas da área do algodão da Zâmbia, Uganda, Quénia, Índia, Burquina Fasso, Turquia, Estados Unidos da América, Tanzânia, Alemanha, Bangladesh e Moçambique. Á

ECONÓMICO

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